Visitei recentemente as obras no túnel ferroviário do Rossio e do túnel do metropolitano no Terreiro do Paço.
Estas obras distinguem-se pela demora em serem concluídas. Da visita retive a falta de cumprimento dos prazos que são sucessivamente prometidos e incumpridos, o desvio do orçamento inicial, mas sobretudo o prejuízo causado à Baixa.
Curiosamente (ou não) ambas as obras são da responsabilidade de entidades tuteladas pelo governo.
Relativamente ao túnel do Rossio que serve a linha de Sintra da REFER, a obra consiste no reforço estrutural do mesmo após a verificação de fragilidades na sua estrutura e que levou ao encerramento da linha neste percurso.
O encerramento do túnel do Rossio teve lugar em Outubro de 2004. O prazo inicial para a obra terminava em Agosto de 2006 E isto mesmo foi afirmado pelo ministro das obras públicas. Na realidade a obra decorre ainda, sendo a previsão de reabertura para Dezembro de 2007 (se não se verificarem mais atrasos.
A este transtorno da interrupção do funcionamento do túnel, acresce o facto de cerca de 70.000 pessoas que todos os dias paravam no Rossio o terem deixado de fazer. Com isto a Baixa e o seu comércio perderam o potencial que significa o trânsito de cerca de 70.000 pessoas.
O outro túnel visitado foi o do Terreiro do Paço. Neste caso a gravidade e responsabilidade do governo é muito maior.
Desde logo pelo clamoroso erro de avaliação das propostas e que conduziram ao grave acidente verificado. Mas também o deslize nos prazos de concretização.
A obra de construção do túnel para o prolongamento da linha do metropolitano teve início em 1997. E prazo de conclusão previsto em 2003... O acidente ocorre em 2000. Em 2004 o ministro de então anuncia a conclusão da obra para 2005. Em 2006 nova data de conclusão é apontada para Junho de 2007. Entretanto, passado que foi Junho, parece que a obra ainda está por concluir... Talvez em Dezembro.
Esta visita foi uma excelente oportunidade para verificar que o governo - que tutela quer a REFER quer o Metro - não tem tido capacidade para gerir obras com estas características. Os prazos não são cumpridos e o valor das obras vai muito para além do inicialmente previsto.
São estes exemplos que ajudam a confirmar que é fundamental a criação da Autoridade Metropolitana de Transportes de modo a tornar eficaz a gestão dos transportes públicos e acessibilidades e que o governo tem vindo a adiar.
A permanência destas obras na Baixa que prolongam a situação de estaleiro desordenado e de desvio de pessoas da Baixa são hoje factores determinantes para a falta de competitividade desta zona da cidade, constituindo-se em autêntico garrote ao desenvolvimento da cidade.