27 junho 2007

Um novo António Costa

"Não é possível devolver o rio Tejo à cidade e garantir o acesso dos lisboetas ao rio mantendo o Porto de Lisboa como um contra-poder. O Porto de Lisboa tem que ser posto no seu devido lugar."

"O que é trabalho portuário cabe ao Porto de Lisboa. Fora das áreas estritamente portuárias, a tutela deve competir à Câmara."

"O Porto de Lisboa não pode substituir-se aos lisboetas no governo da sua cidade."


Duas afirmações do candidato socialista que retirei do Diário Digital aqui. Afirmações com as quais estou de pleno acordo. Já agora, tenho esta mesma opinião há muito tempo e tenho dado nota pública no presente e no passado na câmara e na Assembleia Municipal.

O extraordinário destas afirmações do ex ministro António Costa é precisamente esta sua condição de recente membro (proeminente) do governo. Do governo que tem a tutela da Administração do Porto de Lisboa e que detém o poder de alterar a jurisdição geográfica deste organismo. E este governo (e diga-se que outros também) não mostrou nunca qualquer intenção de alterar a relação da APL com a câmara de Lisboa. Mais, não consta que o antigo ministro António Costa tenha alguma vez, enquanto ministro, esboçado a mais leve intenção de influenciar qualquer alteração desta situação.

A Administração do Porto de Lisboa sempre teve uma atitude de desrespeito pela Câmara Municipal de Lisboa. Não especialmente por culpa dos seus diversos responsáveis mas muito mais pelas atribuições que lhe estão cometidas. É aí que reside o problema. Não faz qualquer sentido que exista uma outra cidade e respectiva gestão dentro da cidade de Lisboa. A vocação da APL é a administração da actividade portuária. À CML compete a gestão e ordenamento do território de Lisboa. É a esta lógica que a APL se tem de submeter. E isso depende da atitude do governo.

Não posso deixar de referir que foi durante a vigência do actual governo socialista que se cometeram algumas das maiores agressões à zona ribeirinha: A construção das agências europeias em frente ao Cais do Sodré com a implantação de uma enorme massa de betão que se constitui numa nova barreira entre o rio e a cidade, a construção de um hotel na zona de Pedrouços, a proposta de construção de mais uma barreira com um enorme terminal de cruzeiros em Santa Apolónia, o aumento do terminal de contentores prolongando a barreira de contentores entre o rio e a cidade e agora a imposição de um plano de desenvolvimento da zona administrada pela APL sem diálogo com a CML.

António Costa fez parte, até há cerca de um mês, do governo responsável por tudo isto. Estamos por isso perante um novo António Costa que mudou muito rapidamente de opinião nestas, como noutras matérias.